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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

MUSEU DA TOLERÂNCIA
arq. Adriano Carnevale Domingues
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Observou-se mal a vida, se ainda não se descobriu a mão que, piedosamente, mata.
Friedrich W. Nietzsche

Vamos celebrar a estupidez humana ...
Renato Russo

Evoluímos como esperado? Racionalizamos a espontaneidade ou atrofiamos nossa percepção?
Há tempos, aqueles que um dia nos foram apresentados como primitivos/ selvagens se uniam com seus iguais e com o espaço ocupado, com o mesmo respeito à seres animados e seres inanimados ao ponto de ritualizar suas ações como se as dessem vozes para um ouvido onipresente. A terra não era ocupada e sim sua parte integrante, talvez a mais superiora delas, com forças por vezes delimitadoras. Crescia no homem o sentido de respeito e limites.
A natureza dava o alimento nas mãos até o dia em que começaram a estocar, ato de aparente conforto uma vez que começavam a se socializar mesmo agrupando em casulos seletivos. Uma vez com reserva nutricional, poderiam distanciar-se da natureza, ponto esse que começariam a altera-la, sobrepondo-se a ela.
O respeito desaparecia na proporção de um pseudo crescimento sócio-cultural patrocinado por um ego insatisfeito, que ciclicamente clamava por competição.
A percepção enfraquecida pelo atrofiamento dos sentidos, uma vez vítima de nossas próprias criações, fez-se um campo fértil para o individualismo egoísta a ponto da raça humana não se tolerar mutuamente.
Uma vez detectado o empobrecimento da percepção humana, caracterizando inúmeros exemplos de intolerância, historicamente já citados, o Museu da Tolerância terá sua concepção arquitetônica baseada no universo transitório da ação humana. A dualidade do bem e do mal, não apenas no sentido cristão de seus significados, mas na força muitas vezes ditatorial de transformação dos valores de uma sociedade; afetando profundamente o sítio de sua implantação.
O estrangulamento da área em razão das leis urbanas de recuos, afastamentos e altura, obriga a alteração do solo a fim de respeitar o programa pré-estabelecido.
O acesso se dará ao nível da rua sem interrupção entre os espaços. Neste ponto cria-se um estranho desequilíbrio já que o raciocínio da implantação, propositalmente explicita os limites legais para ocupação, sendo fortemente marcado pela estrutura periférica e externa às vedações; esta marcação é uma alusão aos campos de concentração nazista, com cabos de aço travando o bloco delimitador mesmo que visualmente permeável. Estes cabos de aço serão rompidos apenas nas áreas de acesso, abrindo a conexão, como uma praça, onde ficará a recepção e o acesso para todo o museu.
A área de exposição temporária começa em declive, do acesso (nível da rua) até o piso plano a 4,00 metros abaixo pertencente a mesma exposição temporária. Esta intervenção no terreno, simula novas curvas de níveis em lajes descoladas da laje de piso, com a intenção de ventilar e iluminar parte da área da exposição permanente logo abaixo, além de recriar um terreno artificial baseado na erosão de lugares esquecidos.
Nos vales de erosão, geralmente os dejetos são jogados, corpos abandonados, usaremos então este fosso como o epicentro, o grande exemplo de alteração ambiental para mostrarmos nas exposições as ações humanas positivas e/ou negativas, pois toda ação repercute, reverbera, altera.
Para a percepção daqueles que passam pelas áreas próximas, haverá na área de maior perspectiva do terreno, voltada para a praça Profº Jorge Americano, um bloco de concreto oco, inclinando para o grande fosso como se estivesse sendo tragado, abriga a loja e o café no mezanino; tendo os elevadores de acesso do público às exposições, além de servir como cobertura da recepção.
Externo e revestindo este bloco de concreto, haverão várias placas de barro queimado (como telhas) com distâncias diferentes presas em espinhos de ferro, como se descascassem de seu corpo, remetendo ao solo seco do nordeste e agora da Amazônia. Tais placas de barro serão moldadas pelos trabalhadores da obra em loco, agregando valor e diferença de forma em suas superfícies, uma vez que a absorção individual das informações , não necessariamente resultam na igualdade das respostas.
No fosso (nível –4,00 metros) ficarão além das exposições temporárias,a área de montagem com uma sala para coordenação, reserva técnica, cinema e sanitários.
Descendo mais 4,00 metros (de piso a piso) ficarão o auditório com sanitários e o espaço para a exposição permanentes aonde painéis estarão dispostos de maneira a formar aparentes salas convencionais , separadas em dois grupos de acordo com o tema da exposição ( ações benéficas e maléficas ). Separando estes dois grupos, no sentido longitudinal, terá uma parede sinuosa transparente de meia altura, contínua, permitindo que, visualmente, o antagonismo dos temas expostos, sejam sempre comparados.
No lado do grupo que expõem ações humanas negativas, um tecido na cor de sangue tornará o teto flácido, interferindo na apreensão total dos espaços. Os painéis nos quais ficarão os documentos, quadros, fotos, etc.., a serem expostos, rotacionarão em torno de um eixo central na velocidade lenta, a fim de quebrar o percurso lógico de visitação, causando desconforto nos visitantes.
No outro lado, o grupo de exposição sobre ações humanas positivas, ficará sob a área do pavimento superior em que as lajes descoladas recriam uma nova topografia, dando uma sensação de desafogo, dando vida às imagens e liberando a perspectiva para o céu.
Restando os vestiários, copa, almoxarifado, manutenção e reservatório de água logo abaixo.
À cima do grande fosso das tolerâncias e intolerâncias humanas, suspenso 6,00 metros do nível da rua, ficarão os espaços destinados a aprendizagem, com salas de aula, laboratórios, biblioteca; área administrativa e coordenação das exposições e alimentação, com restaurante na cobertura, num total de quatro andares.
Cada andar estará desencontrado do andar seguinte para melhor captação da luz natural, seja pelas aberturas horizontais ou por clarabóias resultantes dos espaços destes desencontros.
Estes quatro andares romperão os limites da estrutura periférica, como se almejasse não mais interferir o espaço comum.
Entre a estrutura periférica e as lajes suspensas, terá um tecido para vedação e sinalização de temas sobre diversos assuntos expostos ou em pauta para interação até mesmo daqueles que só passam e começariam a interagir. Este tecido representa uma cortina que ao invés de esconder as atrocidades, reforça o peso dos assuntos abordados.Fica assim então repartido e confrontando a polaridade da falta de limites aliada a alteração nefasta por propósitos pequenos, contra o respeito e até mesmo a exclusão contemplativa do estado natural das coisas como entendimento da extensão de cada um.


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