Paixão Nacional - 2014
óleo e giz sobre tela - 80x110cm
Hoje vi um
corpo atrapalhando a vida. Na verdade acho que ninguém reparou nele; não teve
um arbitro apitando a penalidade máxima ou a falta, a vida seguiu; a
vida sempre segue. País da alegria carnavalesca e de torcidas de sangue quente.
Ontem, o estádio estava lotado, parece diversão, mas, olhando mais de perto ou
de dentro para fora, reparo a transferência da impotência ou fracasso de cada
um daqueles torcedores para seus times. Este time deve honrar esta
transferência com a vitória, nada mais que a vitória já que eu, frustrado com a
minha nula participação na melhora da minha própria vida, não consigo fazê-lo.
Berro, grito indignado e concentro tudo que em mim está entalado num jorro de
saliva, como se, hipocritamente, solucionasse a minha omissão.
Passamos por cima de tudo que é relevante em nome de um país
de festa, de gente boa.
Passamos por cima dos assassinatos, dos estupros, das
violações de direito, da fé do outro, do racismo, da pobreza mas nunca das inúmeras
diferenças que temos. Terceirizamos ideologias e acatamos as ordens de quem nem
sabemos bem ao certo quem são.
Balanço a bandeira do meu time ou da nação como quem tenta
varrer e dissipar no ar os problemas, mais uma vez, que todos nós criamos.
Hoje, eu vi um corpo atrapalhando a vida, mas tudo bem, ele
não era do meu time.
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